terça-feira, 28 de março de 2017

Ex-terrorista arrisca a vida para pregar sobre Jesus

Vinte e dois refugiados se reúnem em um apartamento no subsolo de um prédio em Istambul, Turquia. Vários deles têm nomes islâmicos. Porém, o motivo da reunião é fazerem um estudo bíblico e orações. Hoje todos são cristãos.
Seu líder ouve piadas sobre ser um irhabi (terrorista). Não é para menos, Bashir Mohammad, 25 anos, que conduz o estudo, tomou a piada bem, até 2013 era membro da Frente Al-Nusra, um ramo da Al Qaeda na Síria.
Ele diz que naquela época teria matado qualquer um que sugerisse que ele um dia deixaria de ser muçulmano. Sua esposa, Hevin Rashid, concorda.
Diferentemente de milhares de refugiados sírios, o casal não pensa em ir para a Europa. Vivem na Turquia, um país de maioria muçulmana, e esperam a guerra acabar para voltar para sua casa. Sua história foi contada recentemente pelo The New York Times.
Bashir nasceu e cresceu em Afrin, na parte curda do norte da Síria. Toda a sua família é muçulmana e desde a adolescência flertava com o extremismo. Aos 15 anos, seu primo Ahmad o levou para ouvir pregadores jihadistas. Ele logo se interessou pelas interpretações mais extremas do Islã.
Quando a guerra estourou na Síria, em 2011, juntou-se às forças curdas na luta pela autonomia de sua região. Ao ver dezenas de mortes numa guerra sangrenta, repensou toda a sua vida. “Quando vi todos aqueles cadáveres”, lembra, “isso me fez acreditar em todas as coisas que ouvia nas palestras. Aquilo me fez buscar a grandeza da religião”.
Voltando a se interessar pelo extremismo, em 2012 juntou-se à frente al-Nusra, que procurava estabelecer um governo baseado na sharia, aos moldes do Estado Islâmico. Ele viu seus colegas esmagarem vários prisioneiros com uma patrola. A diferença é que, deste vez, acreditava que as execuções faziam sentido. “Eles costumavam nos dizer que essas pessoas eram inimigas de Alá”, justifica.
Sua família estava insatisfeita com a radicalização do jovem, mas ele demorou a perceber o quanto havia se fechado para o que estava à sua volta. “Fui para a Nusra em busca do meu Deus”, disse ele. “Mas depois que eu vi muçulmanos matando muçulmanos, percebi que havia algo errado. ”
Em 2014, ele e sua esposa fugiram da zona de guerra e juntaram-se aos cerca de 2,5 milhões de outros sírios exilados na Turquia. Continuava sendo um muçulmano zeloso até que, no começo do ano seguinte, Hevin ficou gravemente doente.
Os médicos não identificavam o problema. Bashir decidiu ligar para seu primo Ahmad, que hoje vive no Canadá. Porém, ao pedir orações pela esposa doente, ficou chocado ao saber que ele havia se convertido e seguia a Jesus, um profeta menor dentro do Alcorão.
Ahmad pediu para orar em nome do Jesus que ele seguia e que Bashir colocasse o telefone perto da mulher para que seu grupo de oração pudesse cantar e orar por sua saúde. Horrorizado, Bashir disse que não queria, mas acabou cedendo aos apelos do primo.
Quando Hevin melhorou, poucos dias depois, ele entendeu que isso era fruto das orações do primo. Intrigado, pediu que lhe recomendasse um pregador cristão em Istambul, que poderia explicar melhor essa religião. Recebeu o contato de Eimad Brim, missionário evangélico da Jordânia. Mesmo sabendo que abandonar o Islã poderia lhe custar a vida, ele continuou a procurar respostas.
Percebeu que ler a Bíblia lhe deixava “mais calmo do que ler o Alcorão”. Começou a visitar algumas igrejas com a esposa e disse que se sentiu melhor que nas mesquitas. O que selou a conversão do casal foram os sonhos.
Quando estava decidida a abandonar o Islã, Hevin disse ter sonhado com uma figura que usava poderes celestiais para dividir as águas do mar. Ela disse que era Jesus. Tempos depois, Bashir também sonhou que Jesus lhe oferecia comida.
“Há uma grande diferença entre o deus que eu costumava adorar e o que eu adoro agora”, testemunha. “Nós costumávamos adorar por medo, mas agora tudo mudou”.
Ela sabe que sua rejeição ao Islã faz dele um alvo para seus antigos aliados fundamentalistas. Questionado se não tem medo, resumiu-se a dizer: “Confio no meu Deus”.
Jarbas Aragão

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