Netinho de Paula Divulga Carta de Repúdio às Declarações Racistas de Marco Feliciano e Bolsonaro
O vereador e militante
das causas raciais Netinho de Paula publicou nota em que rechaça as
declarações de cunho racista dos deputados federais Jair Bolsonaro e
Marco Feliciano que vem causando polêmica na mídia e no Congresso, e
conclama: "Temos que lutar cada vez mais para que o racismo seja abolido
neste país."
Leia a carta na íntegra
" O país inteiro está consternado com as declarações de cunho racista e
homofóbico que o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) fez em
entrevista a um programa de TV. Como se não bastasse, o deputado Marco Feliciano
(PSC-SP) disparou no twitter absurdos como: 'os africanos descendem de
ancestral amaldiçoado por Noé” e “a maldição que Noé lança sobre seu
neto, canaã, respinga sobre continente africano, daí a fome, pestes,
doenças, guerras étnicas'.
Diante de tamanha demonstração de racismo,
só tenho que repudiar veementemente tais atitudes. Essas declarações
são uma afronta a todos os cidadãos brasileiros – negros e brancos - e
não condizem com a delegação que o povo brasileiro lhes concedeu.
São afirmações que confrontam expressamente os preceitos fixados pela
Constituição Federal de 1988, que garante o Estado Democrático de
Direito, baseado no princípio da igualdade de direitos entre todos os
cidadãos brasileiros.
Os representantes do povo, função desempenhada, em âmbito nacional, por
deputados federais e senadores, são eleitos para, principalmente, zelar
pelo cumprimento da Constituição Federal.
Estou entristecido e indignado. Milhares de pessoas dedicam sua vida à
luta contra as discriminações de qualquer natureza. E declarações como
essas envergonham a maioria da sociedade brasileira e demonstram que o racismo continua muito presente entre nós.
O Brasil tem se destacado no cenário mundial pelos avanços econômicos e
sociais experimentados durante o governo do presidente Lula, que levaram
mais de trinta milhões de brasileiros à classe média. Mas ainda há
milhões e milhões de afrodescendentes vítimas da desigualdade.
Sou absolutamente a favor das ações afirmativas, das cotas e das
políticas de promoção de igualdade racial e acho que as declarações
lamentáveis desses deputados demonstram que é muito importante que este
tema esteja sempre, de forma construtiva, em pauta em nossa sociedade.
Temos que lutar cada vez mais para que o racismo seja abolido neste país.
O Brasil possui 92 milhões de negros e negras, metade de sua população.
Somos o segundo maior país de população negra do planeta. Estudos do
IBGE mostram que a proporção de brasileiros com ensino superior que se
declaravam pretos ou pardos dobrou em 10 anos, mas representa um terço
do percentual de brancos graduados. Segundo os dados da Síntese de
Indicadores Sociais, divulgados pelo IBGE, em 2009, apenas 4,7% dos
negros e 5,3% dos pardos com 25 anos ou mais tinha curso superior contra
15% dos brancos. Ainda é muito pouco. Não podemos compactuar com a
perpetuação da desvantagem racial. O Estatuto da Igualdade Racial foi um
passo muito importante para o desenvolvimento da democracia brasileira e
temos que fazer muito mais. Com políticas públicas que promovam
socialmente a população negra, estamos respeitando os princípios
democráticos, elevando a autoestima dos negros e possibilitando que
ocupemos o lugar que nos é de direito na história do nosso país.
Os tristes episódios desta semana não podem ficar impunes. Mas acredito
que nós, homens e mulheres, devemos mostrar nossa indignação, não só
pedindo punição para racistas como os deputados Bolsonaro e Feliciano,
mas também propondo políticas de combate a estas práticas, defendendo as
cotas e a inclusão social através da educação.
As manifestações de repúdio em todo o nosso país nos últimos dias
demonstram que grande parte de nossa sociedade começa a caminhar para o
início do entendimento e da aceitação das diferenças. É missão das
autoridades transformar esses anseios da população em ações em prol de
um país mais justo, onde todos os brasileiros tenham as mesmas
oportunidades e sejam igualmente respeitados.
Nós, brasileiros e brasileiras, exigimos respeito! Não existe democracia com racismo!"
Fonte: O Galileu
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