segunda-feira, 4 de abril de 2011

Netinho de Paula Divulga Carta de Repúdio às Declarações Racistas de Marco Feliciano e Bolsonaro

O vereador e militante das causas raciais Netinho de Paula publicou nota em que rechaça as declarações de cunho racista dos deputados federais Jair Bolsonaro e Marco Feliciano que vem causando polêmica na mídia e no Congresso, e conclama: "Temos que lutar cada vez mais para que o racismo seja abolido neste país."


Leia a carta na íntegra

Netinho de Paula Divulga Carta de Repúdio às Declarações Racistas de Marco Feliciano e Bolsonaro" O país inteiro está consternado com as declarações de cunho racista e homofóbico que o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) fez em entrevista a um programa de TV. Como se não bastasse, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) disparou no twitter absurdos como: 'os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” e “a maldição que Noé lança sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas'.
Diante de tamanha demonstração de racismo, só tenho que repudiar veementemente tais atitudes. Essas declarações são uma afronta a todos os cidadãos brasileiros – negros e brancos - e não condizem com a delegação que o povo brasileiro lhes concedeu.

São afirmações que confrontam expressamente os preceitos fixados pela Constituição Federal de 1988, que garante o Estado Democrático de Direito, baseado no princípio da igualdade de direitos entre todos os cidadãos brasileiros.

Os representantes do povo, função desempenhada, em âmbito nacional, por deputados federais e senadores, são eleitos para, principalmente, zelar pelo cumprimento da Constituição Federal.

Estou entristecido e indignado. Milhares de pessoas dedicam sua vida à luta contra as discriminações de qualquer natureza. E declarações como essas envergonham a maioria da sociedade brasileira e demonstram que o racismo continua muito presente entre nós.

O Brasil tem se destacado no cenário mundial pelos avanços econômicos e sociais experimentados durante o governo do presidente Lula, que levaram mais de trinta milhões de brasileiros à classe média. Mas ainda há milhões e milhões de afrodescendentes vítimas da desigualdade.

Sou absolutamente a favor das ações afirmativas, das cotas e das políticas de promoção de igualdade racial e acho que as declarações lamentáveis desses deputados demonstram que é muito importante que este tema esteja sempre, de forma construtiva, em pauta em nossa sociedade. Temos que lutar cada vez mais para que o racismo seja abolido neste país.

O Brasil possui 92 milhões de negros e negras, metade de sua população. Somos o segundo maior país de população negra do planeta. Estudos do IBGE mostram que a proporção de brasileiros com ensino superior que se declaravam pretos ou pardos dobrou em 10 anos, mas representa um terço do percentual de brancos graduados. Segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgados pelo IBGE, em 2009, apenas 4,7% dos negros e 5,3% dos pardos com 25 anos ou mais tinha curso superior contra 15% dos brancos. Ainda é muito pouco. Não podemos compactuar com a perpetuação da desvantagem racial. O Estatuto da Igualdade Racial foi um passo muito importante para o desenvolvimento da democracia brasileira e temos que fazer muito mais. Com políticas públicas que promovam socialmente a população negra, estamos respeitando os princípios democráticos, elevando a autoestima dos negros e possibilitando que ocupemos o lugar que nos é de direito na história do nosso país.

Os tristes episódios desta semana não podem ficar impunes. Mas acredito que nós, homens e mulheres, devemos mostrar nossa indignação, não só pedindo punição para racistas como os deputados Bolsonaro e Feliciano, mas também propondo políticas de combate a estas práticas, defendendo as cotas e a inclusão social através da educação.

As manifestações de repúdio em todo o nosso país nos últimos dias demonstram que grande parte de nossa sociedade começa a caminhar para o início do entendimento e da aceitação das diferenças. É missão das autoridades transformar esses anseios da população em ações em prol de um país mais justo, onde todos os brasileiros tenham as mesmas oportunidades e sejam igualmente respeitados.

Nós, brasileiros e brasileiras, exigimos respeito! Não existe democracia com racismo!" 

 Fonte: O Galileu

 



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