No dia 13, domingo, doze pessoas (número dos apóstolos) se reuniram
na casa de Pedro, em Diadema, na Grande São Paulo, para “última ceia”,
conforme afirmaram. Eles leram a Bíblia, escreveram recados para
parentes, rasgaram dinheiro e documentos (CPF seria o número da besta) e
quebraram instrumentos do demônio, como computador e televisor,
preparando-se para o dia seguinte.
O
pregador Roberto Carlos da Silva, com base em um calendário hebraico,
calculou que Jesus voltaria à Terra por volta das 14h do dia seguinte e
os levaria para o Pai, provavelmente em algum lugar da rodovia Fernão
Dias. Seria o dia do arrebatamento, previsto na Bíblia.
Desde
então o vendedor Pedro, sua mulher Antônia, seu irmão José Carlos e os
filhos Henrique, 22, e Thais, 18, estavam desaparecidos. Eles haviam
saído só com a roupa do corpo com a convicção de que um anjo os
abordaria anunciando a chegada de Jesus.
Valcilene Dias, mulher de
José Carlos, e os filhos do casal (a adolescente Carla e os meninos
Rubens e Moisés) também saíram para o encontro com Jesus, mas voltaram
quando sentiram sede e fome. Rubens, que participou da “ceia”, disse que
o seu primo Henrique estava esquisito, porque dizia que “amanhã a gente
vai para a glória”. “Eles estavam levando aquilo muito a sério”, disse
Valcilene.
Antônia deixou um emprego em uma empresa onde estava
havia 14 anos. Seu filho Henrique terminou a faculdade no ano passado,
tinha emprego e era noivo. Thais também abandonou o emprego.
Patrícia
Gomes Carvalho, filha de Antônia e enteada de Pedro, foi a primeira a
notar o desaparecimento do casal e filhos. Ela mora com marido e dois
filhos pequenos em uma casa vizinha à da família de religiosos.
Patrícia
e outros vizinhos contaram que Pedro tinha mudado abruptamente de
comportamento, influenciando toda a família. “Eles só falavam sobre o
fim dos tempos e da volta de Jesus”, disse Patrícia.
Os vizinhos
apontaram três pregadores que se revezavam na Praça da Sé, em São Paulo,
como os responsáveis pelo fanatismo religioso da família. O líder
deles, Roberto Carlos da Silva, é dono de uma pequena gráfica, ele
deixou mulher, três filhos e dívidas.
Família encontrada 400 km depois
A
família foi localizada neste domingo em Ourinhos (SP), a cerca de 400
km da cidade onde moram, Diadema, na Grande São Paulo. O casal Pedro e
Antônio e os filhos Henrique e Thais foram reconhecidos por funcionários
de um albergue. Eles passaram o fim de semana ali. Não há informação
sobre os três pregadores.
Patrícia Gomes Carvalho, filha de
Antônia e enteada de Pedro, ao manifestar alívio com a localização da
família, lamentou os transtornos causados por “falsos profetas”. Ela
agradeceu o apoio das pessoas que distribuíram em Diadema cartazes de
“procura-se” e de comunidades criadas no Orkut.
A assistência
social Márcia Moraes disse que a família está bem. De acordo com ela,
Pedro afirmou que eles estavam cumprindo os desígnios da Bíblia.
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