terça-feira, 29 de março de 2011

Conheça o estudante de 16 anos que foi parar na prisão por protestar contra Barack Obama

João Pedro em frente a um cartaz que manda 
Obama voltara para casa, na Cinelândia
RIO - Barack Obama passou três dias no Brasil, o mesmo tempo em que o estudante João Pedro Accioly Teixeira, de 16 anos, ficou na prisão por participar de um ato contra o presidente norte-americano. Se, na manifestação, o aluno do Pedro II de São Cristóvão segurou cartazes como "Fora Obama" e "Go home", nas duas noites em que passou atrás das grades ele temeu não voltar mais para sua casa, no Cachambi.
- Tive medo de não sair da prisão depois de dois pedidos de liberdade assistida negados. Era uma sensação de agonia constante, como se precisasse correr e não tivesse pernas, gritar e não tivesse voz - compara João Pedro, que também ouviu gritos na noite que passou numa cela do Centro de Triagem e Recepção (CTR), na Ilha do Governador. - Os gritos que eu ouvia de "não me bate, por favor!" eram insuportáveis. Percebi que as agressões físicas e o assédio moral são institucionalizados. Disseram que se eu andasse fora da linha ia tomar porrada.
Ele foi preso junto com 12 manifestantes depois que um coquetel molotov foi jogado contra o Consulado dos Estados Unidos, no Centro, e feriu um segurança. João diz não saber quem foi o (ir)responsável pela bomba. Como estava próximo do tumulto, foi levado de camburão para a 5 DP, onde passou a noite de sexta. Único menor de idade, acabou encaminhado no sábado de manhã à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de onde foi transferido para o CTR.
- O ato foi pacífico, mas, no momento de encerramento, uma ação isolada e ignóbil estragou tudo - lamenta o militante da Juventude do PSOL. - Fui tacado num camburão, o que é ilegal, pois sou menor. Na 5 DP só comi um sanduíche que minha mãe levou para mim. Ela ficou desesperada e chorou por diversas vezes.
Já o moleque segurou a onda firme e forte. Em fevereiro, ele já havia sido detido e levado à 17DP depois de um protesto dos alunos do Pedro II contra o calor nas salas de aula. Mas nada comparado ao perrengue que ele viu meninos da sua idade passarem na DPCA e no CTR.
- A cela da DPCA tem um metro quadrado, com um buraco no chão para fazer as necessidades. Um menor que estava comigo teve que beber água da privada, uma espécie de vaso acoplado ao chão.
Mas foi no CTR que o diretor do grêmio do Pedro II viu a realidade que mais o chocou. Primeiramente, ele foi colocado numa cela com sete adolescentes envolvidos com o tráfico de drogas, que disputavam entre si quem havia cometido mais assassinados. Em pouco tempo o caso de João também ganhou notoriedade entre os presos.
- A naturalidade com que eles banalizam a morte é chocante. Os relatos de incendiar corpos são bastante perturbadores. Fiquei famoso como "o playboy que tinha jogado uma bomba no Obama" e mantive a história para ser mais respeitado dentro do presídio. Os próprios servidores do Degase concordaram com as bandeiras do ato - diz.
Logo o "preso político" ganhou "regalias" como uma cela só para ele, onde passou a noite de sábado. Antes, dividiu a mesa do refeitório com outros internos. Sempre em silêncio, pois não é permitido conversar durante as cinco refeições diárias. Mas João Pedro aprovou o cardápio:
- A comida é de boa qualidade. Comi arroz, feijão, carne e um legume. Na primeira refeição, comi com todo mundo, mas depois houve indicação do próprio delegado, e os servidores passavam dizendo que era para me tratar direito porque eu não era vagabundo.
Não mesmo. Aluno do 3 ano e candidato a uma vaga em Direito, ele já foi aprovado nos vestibulares da Uerj e UFRJ em 2010 e sonha ser procurador da República e combater a improbidade administrativa e a corrupção. Por enquanto, atua na secretaria executiva do Fórum Estadual em Defesa da Educação Pública e organiza uma nova manifestação nesta quinta-feira, às 12h30, na Candelária:
- Vamos fazer uma grande passeata em defesa da educação pública com professores e alunos lutando pelo passe livre irrestrito e por uma educação pública de qualidade.
Sem prisões dessa vez, né?
- O estado de exceção que se criou com a visita do Obama não pode se repetir. Liberdade de manifestação e expressão não podem ser desrespeitados, com prisões arbitrárias.
Está dado o recado.


 Fonte: Gritos de alerta

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