No final do ano passado, o grupo AfroReggae
propôs ao canal Multishow produzir um programa que tivesse um olhar
diferente sobre a invasão da polícia ao Complexo do Alemão, no Rio, que
aconteceu em novembro último.
Seria uma resposta do
grupo, que desenvolve projetos sociais em favelas, à cobertura que a
imprensa deu ao episódio, considerada por eles como superficial e
benevolente com a ação militar.
A ideia era fazer um
reality no qual um policial civil disfarçado passaria uma semana na
favela, acompanhado por câmeras, para conversar com moradores sobre o
que pensavam da operação.
A execução do projeto foi um
tanto caseira. O policial escolhido, Beto Chaves, de 34, participou da
operação em novembro, mas colabora com o AfroReggae desde 2008, dando
palestras em escolas. A casa em que ele ficou pertence ao grupo, que
pretende montar uma pousada.
Sete pessoas
acompanharam o policial, afirmando que faziam um documentário. O
argumento inicial não foi seguido ao pé da letra. O protagonista, após
ganhar a confiança do interlocutor, acabava revelando sua identidade.
Por vezes, passava a defender a polícia.
Mas como o grupo é conhecido da comunidade --alguns integrantes da equipe moram ali-- não houve grandes sobressaltos.
O
resultado acabou ficando interessante, porque não traz uma série de
denúncias de abuso policial, o que soaria falso, nem um diagnóstico
conclusivo sobre a opinião dos moradores.
No diálogo,
transparece uma hostilidade culturalmente arraigada contra a polícia.
"Eles não têm faro para distinguir quem é bandido de quem é cidadão",
reclama um morador.
Os personagens são instigantes. Um
pastor conta que já salvou condenados do tribunal do tráfico. Uma
ex-mulher de traficante diz que se sentiu inicialmente seduzida pelo
poder, mas que, quando quis romper a relação, foi ameaçada de morte.
E
o policial acaba vivendo uma experiência transformadora, não por
descobrir atrocidades cometidas pela corporação, mas pela constatação de
que, para muitos moradores, o fato de a favela estar ocupada pela
polícia ou por bandidos é secundário.
"Existe um nível de
miséria e abandono tão grande por parte do Estado que a gente percebe
que o buraco é muito mais embaixo", diz o diretor, Rafael Dragaud.
Em
uma das sequências, o protagonista percorre a favelinha da Skol, uma
fábrica abandonada onde moram dezenas de família. Crianças brincam ao
lado de ratos e baratas. Ele encontra uma família que não tem nenhum
documento. "Já são quatro gerações sem registro", diz o pai. Ali, toda a
discussão policial começa a parecer um problema menor.
Fonte: Jornal Floripa/
Via: www.guiame.com.br


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